Entrevista: A importância da ESG na gestão de crises em tecnologia

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Patrícia B. Teixeira, diretora estratégica da WePlanBefore (conhecida por identificar pontos fortes e oportunidades de melhoria nas empresas), concedeu uma entrevista exclusiva ao Prática ESG sobre a importância das práticas sustentáveis na gestão de crises com foco na área de TI. A executiva, que possui livros dedicados ao tema, fala da necessidade de elaboração de políticas e estratégicas eficazes, além do comprometimento e transparência com os stakeholders durante eventos extremos que possam causar a interrupção de serviços.

Confira a seguir:

Diversas empresas estão incluindo módulos de ESG em suas soluções de gerenciamento de dados para clientes. Qual sua avaliação sobre tendência, e qual o valor agregado dessas funcionalidades quando tratamos de crises?

A tendência de incorporar módulos de ESG em soluções de gerenciamento de dados reflete uma compreensão crescente de que as práticas sustentáveis, éticas e de governança têm um impacto direto na resiliência das empresas em termos de solidez da empresa a longo prazo. O valor agregado dessas funcionalidades reside na capacidade de monitorar e analisar o desempenho de ESG em tempo real, permitindo uma resposta mais ágil e informada durante crises. Isso não apenas facilita a tomada de decisão baseada em dados, mas também promove a transparência e a responsabilidade corporativa, elementos cruciais para a confiança dos stakeholders em momentos críticos. E quando falamos em construção de confiança, estamos falando de pequenos detalhes para construção da reputação.

Como as práticas de governança corporativa relacionadas à sustentabilidade e ética influenciam a capacidade de uma organização de lidar com crises em sua infraestrutura de tecnologia?

Práticas de governança corporativa que enfatizam a sustentabilidade e a ética aumentam a resiliência organizacional, fortalecendo a capacidade de enfrentar crises, incluindo aquelas que afetam a infraestrutura de tecnologia. Uma governança sólida assegura que existam políticas e procedimentos para gerenciar riscos de forma eficaz, promover a integridade operacional e manter altos padrões éticos, o que é fundamental para prevenir crises ou mitigar seus impactos. Criação de políticas, padrões e monitoramentos, comunicação e educação são estratégias eficazes e de alto investimento, mas que garante uma estrutura sólida de uma organização.

De que maneira as empresas que priorizam aspectos ambientais e sociais em suas operações estão mais bem preparadas para enfrentar crises?

Empresas que dão prioridade ao meio ambiente e às questões sociais em suas operações geralmente adotam uma abordagem mais holística e sustentável para a gestão de negócios. Isso as torna mais adaptáveis e preparadas para crises, pois tais práticas incentivam a antecipação de riscos, a inovação em processos e a construção de uma imagem corporativa forte.

É possível dizer que a adoção de políticas de ESG auxilia na redução do impacto ambiental e social de interrupções de TI?

Ela promove uma recuperação mais rápida e sustentável? Políticas de ESG podem de fato reduzir o impacto ambiental e social de interrupções de TI e promover uma recuperação mais rápida e sustentável. Através da adoção de práticas responsáveis e sustentáveis, as empresas podem garantir sistemas mais robustos e resilientes, além de minimizar danos a stakeholders, melhorando a continuidade dos negócios e a recuperação de desastres.

Políticas de ESG voltadas para o setor de TI podem incluir, por exemplo, o uso de energia verde para alimentar data centers, a implementação de sistemas de refrigeração mais eficientes, o design de produtos e serviços que minimizem o desperdício de recursos, e programas de reciclagem e reutilização de equipamentos eletrônicos. Tais medidas reduzem o impacto ambiental das operações de TI e contribuem para a sustentabilidade a longo prazo.

Além disso, a adoção de uma abordagem de ESG em TI ajuda a criar planos de continuidade de negócios e de recuperação de desastres que consideram não apenas a recuperação operacional, mas também o impacto ambiental e social dessas ações. Isso significa que, em caso de interrupções, as empresas podem não apenas restaurar suas operações de maneira eficiente, mas fazê-lo de maneira que minimize danos ao ambiente e à sociedade, promovendo uma recuperação que é verdadeiramente sustentável.

A integração de políticas de ESG no gerenciamento de TI é um passo significativo para construir uma infraestrutura tecnológica que seja não apenas robusta e eficiente, mas também responsável e alinhada com valores sustentáveis. Isso, por sua vez, prepara a empresa para responder e se recuperar de maneira mais eficaz frente a interrupções, reduzindo impactos negativos e promovendo um retorno às operações de forma responsável e sustentável.

Como a transparência e a responsabilidade corporativa, aspectos fundamentais do ESG, contribuem para a confiança dos clientes e stakeholders durante crises de segurança da informação e falhas de infraestrutura de TI?

A transparência e a responsabilidade corporativa, aspectos essenciais do ESG, são pontos cruciais não só na gestão de crises de segurança da informação e falhas de infraestrutura de TI, mas também na preservação e recuperação da reputação corporativa. Quando uma organização enfrenta uma crise, a rapidez e clareza de sua comunicação podem determinar a trajetória da sua reputação subsequente. Uma gestão de crise eficaz, ancorada na transparência, implica comunicar o que deu errado, quais são os impactos esperados e, mais importante, quais ações estão sendo tomadas para resolver o problema e prevenir futuras ocorrências. Esta abordagem não só atende às expectativas imediatas dos stakeholders por informação clara, mas também fortalece a confiança a longo prazo, mostrando que a empresa é confiável e responsável, mesmo em situações adversas. Importante frisar que para isso acontecer, a empresa precisa estar preparada com mapeamento de riscos e planos de respostas de acordo com cada cenário, além de um time preparado para agir com eficiência.

Por outro lado, a responsabilidade corporativa em gestão de crise vai além da resposta imediata. Envolve uma análise profunda das causas raízes da crise, a implementação de medidas corretivas robustas e, crucialmente, um compromisso visível com a melhoria contínua. Isso pode incluir o aprimoramento de políticas de segurança da informação, investimentos em tecnologia de ponta, ou o desenvolvimento de uma cultura corporativa que valorize a ética e a responsabilidade em todos os níveis da organização. Quando os stakeholders percebem esse compromisso genuíno com a melhoria contínua, a reputação da empresa se fortalece, mesmo após crises significativas. Assim, a transparência e a responsabilidade corporativa em gestão de crise não apenas mitigam os danos no curto prazo, mas também podem transformar um desafio em uma oportunidade para reforçar a confiança e a reputação corporativa a longo prazo.

Como as mudanças climáticas, incluindo eventos extremos como tempestades, inundações e incêndios florestais, podem desencadear uma crise em empresas, e de que maneira as práticas de sustentabilidade podem ajudar a mitigar esses impactos e promover uma recuperação eficaz da infraestrutura tecnológica afetada?

As mudanças climáticas e os eventos extremos associados, como tempestades, inundações e incêndios florestais, representam uma ameaça significativa às empresas, potencialmente desencadeando crises ao afetar diretamente a infraestrutura tecnológica e operacional. Tais eventos podem resultar em danos físicos a centros de dados, interrupções no fornecimento de energia, e comprometimento da cadeia de suprimentos, entre outros impactos críticos. Além do prejuízo imediato, essas crises podem ter efeitos duradouros na capacidade operacional da empresa, na confiança dos stakeholders e na reputação da marca.

Como estratégia, desenvolver planos de resposta específicos para cada tipo de evento extremo, baseados em uma análise de risco, considerando a probabilidade e o impacto potencial de cada tipo de evento. A preparação eficaz inclui, por exemplo, a construção de infraestruturas resilientes, a diversificação de fornecedores e rotas de suprimento, e o investimento em fontes de energia alternativas e sistemas de backup.

Além disso, o monitoramento contínuo dos sinais de mudanças climáticas e eventos extremos permite um acionamento no momento devido, maximizando o tempo disponível para ativar planos de emergência e mitigar danos. Tecnologias avançadas de previsão e sistemas de alerta precoce podem ser cruciais nesse aspecto. A sustentabilidade também implica na recuperação eficaz, focando não apenas no restabelecimento rápido das operações, mas também na aprendizagem com a crise para melhorar a resiliência.