Queimadas e crise climática reforçam urgência do debate sobre os oceanos

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O aumento das queimadas no país em 2024, com um crescimento de 100% em relação ao ano anterior, destaca a necessidade urgente de ações voltadas à preservação ambiental e mitigação dos efeitos da crise climática. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Brasil já registrou mais de 159 mil focos de incêndio este ano, com a Amazônia e o Cerrado sendo os biomas mais afetados. Esses dados reforçam a importância de soluções sustentáveis que protejam os ecossistemas e promovam o uso responsável dos recursos naturais.

Beto Marcelino, especialista em cidades inteligentes e sócio-diretor do iCities, hub de cidades inteligentes pioneiro no tema no Brasil, aponta que dentre os prejuízos ocasionados pelo cenário das queimadas, destaca-se o ecossistema dos oceanos. “A transformação atmosférica gerada pelas queimadas traz efeitos danosos a toda cadeia biológica dos mares. Essa relação se torna evidente quando consideramos a importância dos oceanos para a regulação do clima, a biodiversidade marinha e a economia azul, que é baseada no uso sustentável dos recursos marinhos’, explica Beto.

Os oceanos são capazes de absorver cerca de 30% de CO₂. De acordo com o especialista, esse cenário de aumento das queimadas  leva à acidificação dos oceanos, prejudicando a vida marinha, como corais e moluscos, essenciais para os ecossistemas aquáticos. Outro ponto levantado por Beto trata-se da transformação do ciclo da água. “Queimadas em grandes áreas florestais  diminuem a evapotranspiração e reduzem a quantidade de chuva em várias regiões. Menos chuvas afetam diretamente os rios, que deságuam nos oceanos, alterando a salinidade e a temperatura das águas costeiras, o que prejudica espécies marinhas. Além disso, queimadas aumentam a erosão do solo e a sedimentação nos ambientes marinhos, o que pode sufocar recifes de corais e impactar áreas costeiras essenciais para a reprodução de várias espécies aquáticas.

Diante desse cenário preocupante, emerge a necessidade de ampliar as discussões sobre a economia azul. Cerca de 80% dos brasileiros moram em até 200 km do mar,, segundo levantamento da Embrapa. “São cidades que têm suas economias baseadas em navegação, turismo, geração de energia no mar (offshore) ou em costa, pesca, aquicultura, esportes marítimos e extração de petróleo e gás”, explica Beto. Ele pontua que a saúde dos oceanos está diretamente ligada à disponibilidade de recursos pesqueiros, que sustentam milhões de pessoas ao redor do mundo. “A partir do avanço da degradação dos oceanos, causada tanto pela mudança climática agravada pelas queimadas e poluição, esses recursos ficam ameaçados, comprometendo a segurança alimentar e, principalmente, as economias dependentes da pesca”, acrescenta.

O especialista alerta ainda para o impacto das mudanças climáticas na geração de energia renovável, tendo em vista que a viabilidade desses projetos depende de condições climáticas estáveis. “Além de impactar a evolução da energia limpa, a degradação dos oceanos influencia também no maior  risco de desastres naturais, como tempestades mais intensas, afetando a infraestrutura costeira”, complementa Beto.

Brasil receberá pela primeira vez evento internacional sobre Economia Azul

A partir de sua vasta costa de 8.500 quilômetros, e dependência dos oceanos para o comércio e exploração de recursos, o Brasil está em uma posição estratégica para liderar o diálogo sobre como a economia azul pode impulsionar o desenvolvimento sustentável. É com essa proposta que o país receberá pela primeira vez o evento global Tomorrow.Blue Economy, que acontecerá nos dias 4 e 5 de dezembro em Niterói (RJ). 

Organizado pelo iCities, o congresso reunirá líderes e especialistas para discutir o papel dos oceanos no desenvolvimento sustentável e como a economia azul pode ser uma resposta à crise ambiental global. A “blue economy”, como é conhecida globalmente, movimenta mais de US$ 3 trilhões por ano e representa uma oportunidade para transformar o uso dos recursos oceânicos em um motor de crescimento econômico, sem comprometer a saúde dos ecossistemas. “Infelizmente os incêndios e a destruição ambiental estão acontecendo em uma escala alarmante, e isso ressalta o quanto precisamos rever nossas estratégias de uso dos recursos naturais, incluindo os oceânicos” afirma Beto Marcelino, sócio-fundador do iCities. 

O Tomorrow.Blue Economy visa unir esforços para encontrar soluções sustentáveis que contribuam para a preservação dos mares e, consequentemente, para o equilíbrio ambiental e econômico do planeta. Com o apoio da FIRA Barcelona e da Prefeitura de Niterói, o evento debaterá temas como resiliência costeira às mudanças climáticas, tecnologias para portos sustentáveis e a governança das águas. 

Para acessar o site do evento e ver mais informações sobre speakers, participação e parcerias, clique aqui.