As empresas na trilha da descarbonização

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*Por Marcelo Varlese

Em 2022, o coeficiente de CO2 emitido mundialmente a partir da geração de energia fóssil aumentou 0,9%, atingindo o nível recorde, segundo dados levantados pela Agência Internacional de Energia (AIE). Esse índice só não foi maior – e, na verdade, se manteve abaixo do que era esperado – em virtude da compensação obtida com a geração do recurso por meio de fontes renováveis, como a fotovoltaica, a eólica, entre outras. Dados como este devem servir de alerta e estímulo para a criação de iniciativas que de fato mudem o cenário.

Para servir como ferramenta foi definida uma estratégia de descarbonização, que visa a mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas, com a redução das emissões dos gases de efeito estufa (GEE), como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), e a construção de uma economia global mais sustentável. Como já é conhecido no mercado, o conjunto de iniciativas é definido como “trilha de descarbonização”, composta por quatro etapas, sendo elas: inventário de carbono; redução de emissões; neutralização de emissões e gestão de carbono.

Para que a descarbonização não se restrinja apenas a um discurso vazio, é importante haver neste processo o envolvimento de todos os atores da sociedade: governo; empresas; investidores; consumidores e área acadêmica/pesquisadores. Tendo em vista esse contexto, vou dar destaque aqui para o papel das empresas, que têm em suas mãos, além dos recursos financeiros, a possibilidade de estabelecer um posicionamento mais consciente e sustentável diante dos consumidores, colaboradores e stakeholders.

Na primeira etapa, é importante que as empresas identifiquem as emissões de GEE em toda sua operação e tracem planos concretos para reduzi-las. Há protocolos e normas específicas que devem ser seguidas para elaboração do inventário de carbono de uma organização, entre elas a GHG (Greenhouse Gas), a qual foi adaptada ao contexto nacional, surgindo o Programa Brasileiro GHG Protocol. Uma vez conhecidas as emissões da companhia, o segundo passo é traçar e implantar ações na cadeia para mitigar e reduzir as emissões. Importante lembrar que as soluções precisam estar adequadas aos escopos identificados e aos objetivos da empresa. Algumas sugestões de ações que estão à disposição das organizações são a eficiência energética, a geração fotovoltaica e a compra de energia renovável, por exemplo.

Uma vez implantadas as ações, se ainda houver emissões que não possam ser reduzidas, é aí então que as empresas podem lançar mão da neutralização de emissões. Essa iniciativa está ao alcance da maioria das companhias e tem se expandido no mercado por apoiar as empresas na sua jornada para se tornarem carbono neutro, ou seja, terem as emissões de GEE iguais a zero. A aquisição de créditos de carbono e de I-RECs é uma das opções mais populares no Brasil, atualmente. As recomendações nesse aspecto são de, primeiramente, optar entre as plataformas existentes, tanto nacionais quanto internacionais, e, em seguida, selecionar os projetos de descarbonização que sejam adequados às metas estipuladas pela empresa e aos escopos de carbono.

Uma vez que a corporação já tenha atingido suas metas de descarbonização, a gestão de carbono – com o monitoramento dos índices de emissão – é fundamental para a manutenção do estágio alcançado e governança corporativa. Essa tarefa pode ser realizada com a ajuda da metodologia de gestão PDCA (Planejar, Desenvolver, Chegar e Agir), uma ferramenta feita para monitorar continuamente as práticas de descarbonização, dado que o processo é contínuo e, à medida que as operações das companhias crescem, as emissões e as respectivas ações de mitigações devem ser atualizadas e repensadas.

Contar com a experiência de players do mercado é muito importante no sentido de direcionar os esforços e ser mais assertivo. Hoje em dia, as organizações têm à disposição instrumentos e estrutura para levar adiante planos bem-sucedidos de descarbonização. No entanto, nenhum dos pontos dessa trilha descrita até aqui terá efeito de fato se a empresa não contar com uma equipe comprometida com o destino final dela. 

*Por Marcelo Varlese, diretor comercial e de Marketing e Inovação da GreenYellow no Brasil