Todos os anos, a história sobre sustentabilidade se repete: novas promessas, avanços notáveis e a mesma conclusão incômoda de que o progresso está estagnado. Mas e se esse diagnóstico estiver errado? E se o problema não for a falta de progresso, mas sim o fato de estarmos procurando nos lugares errados?
Enquanto o mundo aguarda soluções milagrosas, avanços reais já estão acontecendo na reestruturação das redes elétricas, na ascensão de polos industriais digitais e nas discretas transformações de infraestrutura que raramente chegam às manchetes.
Não nos falta progresso. Só precisamos de uma perspectiva diferente para medir.
A COP30 do Brasil não será como as outras. Realizada em Belém, no Pará, na orla da Amazônia, a cúpula já está mudando o foco das promessas para a comprovação e da ambição para a execução. O foco está na construção de infraestrutura que não apenas descarbonize, mas também se adapte e perdure. O apelo do Brasil por um mutirão, um esforço coletivo, reflete o que estamos vendo em toda a indústria: progresso estrutural, não simbólico, sustentado por uma colaboração radical.
Nesse contexto, a verdadeira limitação não é a inovação, mas sim a capacidade da infraestrutura de acompanhar seu ritmo. E isso fica ainda mais evidente na rede elétrica: quando a infraestrutura se torna o gargalo, os avanços não se restringem às ampliações, mas às conexões, que precisam ser mais inteligentes.
Globalmente, os operadores de redes elétricas estão sob pressão para gerenciar o aumento da carga de energias renováveis, equilibrando a demanda em tempo real, para evitar o desperdício da energia limpa gerada. Ao mesmo tempo, o aumento do preço da energia restringe o crescimento industrial em muitas áreas. E a exigência por mais eletricidade intensifica a pressão sobre a infraestrutura existente.
A boa notícia é que as ferramentas digitais estão ajudando a enfrentar ambos os desafios, e um exemplo vem daqui mesmo.
Com a ajuda da tecnologia, o Operador Nacional do Sistema (ONS), integrou uma plataforma de gestão energética para recuperar 211.000 MWh de energia renovável. Isso é suficiente para abastecer aproximadamente 20 mil residências por um ano, considerando o consumo médio de eletricidade por domicílio. A maior visibilidade também ajudou a evitar perdas de US$ 11,4 milhões, maximizando a utilização de energia limpa.
Isso mostra que a sustentabilidade está sendo incorporada às operações das empresas, e não adicionada posteriormente. E como esse momentum se reflete em capacidade e não apenas em reduções de emissões, as métricas tradicionais não conseguem registrá-lo. Sustentabilidade não segue uma linha reta e muitas das métricas atuais ainda a medem como se seguisse.
Indicadores ESG tradicionais dependem muito de totais anuais e linhas de base estáticas, em vez de capturar o dinamismo em tempo real. Entretanto, os verdadeiros avanços ocorrem quando as restrições da infraestrutura são superadas, os fluxos de dados preditivos permitem a otimização em tempo real e a colaboração entre clusters industriais potencializa economias. Essas mudanças criam transformações abruptas, não tendências lineares.
Elas também introduzem complexidade, dificultando a coordenação em uma economia interconectada e orientada por dados. É por isso que a digitalização se torna tão essencial, sendo a base para uma economia industrial conectada.
Reconhecer esse progresso exige mudar a perspectiva com que analisamos o problema. Precisamos de uma lente que acompanhe a evolução dos sistemas, e não apenas a redução das emissões. Caso contrário, corremos o risco de confundir um progresso real com uma desaceleração e de ignorar as lições que podem ser replicadas em setores inteiros.
O desafio agora é enxergá-las. Os avanços que estão remodelando os setores de energia, manufatura e cadeias de suprimentos raramente chegam às manchetes, mas estão acontecendo. Clusters digitais, coordenação de redes elétricas e compartilhamento de dados operacionais estão silenciosamente impulsionando mudanças em diversos setores.
A sustentabilidade não está perdendo força. Ela está passando da intenção para a infraestrutura,
das manchetes para a implementação prática, da ambição para a execução.
Essa mudança já está remodelando as expectativas, e a COP30 deixará isso bem evidente. Em Belém, a conversa se voltará para a implementação, com foco em como financiar a resiliência climática, digitalizar a transição energética e construir a infraestrutura que impulsiona tanto o crescimento quanto a descarbonização.
A concretização desses objetivos dependerá da eficácia com que conectarmos os sistemas que já impulsionam a mudança. Isso porque o verdadeiro progresso na transição energética depende da interligação de sistemas industriais funcionais, da coordenação das próximas etapas e do desenvolvimento de soluções duradouras.
Por Lisa Wee, Head Global de Sustentabilidade da AVEVA
